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ARTES E OFÍCIOS

           

“Em 23 de Maio de 1506 estando juntos o Juíz ordinário, o Vereador e o procurador do concelho além de outros homens bons da Câmara, acordaram e houveram por bem, e proveito da terra, haverem um ferreiro para estar na terra, o qual concertaram (acordaram ) com Gonçalo Anes, Ferreiro, que nos servisse, e morasse na terra quatro anos ao qual temos de dar dois moios de trigo e lhe fazemos uma casa igual à casa do Concelho, e mais pagarão o frete dele e de sua família, de 500 reis.”(1)
A deliberação “foi notificada ao povo, e o povo disse que era muito contente de tudo o que os homens bons da Câmara fizeram”. E logo “lançaram as taxas para o pagamento daqueles encargos e de outras coisas”.
Nesse mesmo ano de 1506 resolveram lançar uma finta (taxa) sobre os moradores (ou fogos) da ilha que eram 45 e a finta foi fixada em 27.455 reis, destinada à construção da igreja (Matriz). Até então vinha servindo a ermida de S. Pedro.
Curiosamente, (cerca de cinquenta anos após o povoamento) na lista já se encontram um sapateiro, um carpinteiro, um pedreiro, um alfaiate, um tecelão e um cardador.
A casa que foi prometida ao ferreiro era igual à da câmara. Esta era de dois pisos e no segundo tinha duas divisões. “Situava-se na Praça e (foi) demolida em 1900 por causa das obras da matriz nova”.(2)
Em 1884 a freguesia da Santíssima Trindade tinha 3 107 habitantes, sendo 2583 maiores de sete anos e 524 crianças. Na população estavam incluídos quatro negociantes, sete carpinteiros, sete ferreiros, quatro sapateiros, um alfaiate e um calafate ou construtor de embarcações de pesca local e canoas baleeiras. (3)Convém recordar que o primeiro construtor de canoas baleeiras, em Portugal, foi o lajense Francisco José Machado (Experiente).
Em 1922 vamos encontrar, na vila das Lajes, dois alfaiates, um barbeiro, oito comerciantes, dois construtores de embarcações, duas fabricas de queijo e manteiga, uma florista um pintor - dourador, três sapatarias, e dois talhos.(4)
Decorridos trinta e três anos (1955) a vila das Lajes possuía: dois construtores navais, nove fábricas de lacticínios, uma fábrica de conservas, uma da baleia, e uma de laranjadas, três moagens de cereais, duas padarias, duas pensões, sete armações baleeiras, duas sapatarias, duas barbearias, três oficinas de ferreiro, duas bombas de combustíveis, dois depósitos de tabaco e diversos estabelecimentos comerciais.(5)
Aqueles que se destinavam ao exercício dos ofícios de alfaiate, barbeiro, carpinteiro, ferreiro ou sapateiro, ou outros, iam praticar durante meses ou ano, nas oficinas existentes, sem qualquer remuneração e, não raro, tinham de deslocar-se das respectivas residências para fora da localidade.
Presentemente não existem barbeiros, nem sapateiros, ou ferreiros. As fábricas de lacticínios estão reduzidas a uma somente. Desapareceram as sete armações baleeiras por força da proibição da caça da baleia, deixando de existir a respectiva fábrica. E fecharam, também, a fábrica de conservas e a de laranjadas. Os estabelecimentos comerciais tradicionais quase desapareceram...Todavia abriu há meses um excelente hipermercado. O mesmo vem acontecendo em toda a ilha, embora novos estabelecimentos com diversos géneros de comércio hajam surgido. E bem assim novas oficinas, especialmente de artesanato, que o turista muito procura.
Mas tudo isto uma vez mais é recordado, com o recente caso dos “Estaleiros da Madalena”. E a eles fazendo alusão ligeira, recordo os estaleiros de Santo Amaro, ou o Arsenal de Santo Amaro, como os classificou o Pe. José Maria das Neves:
“Presentemente (1970), há três estaleiros navais equipados com maquinismo moderno; o de Manuel Joaquim de Melo, dirigido por João Alberto Neves(...) o de José Teixeira Costa e o de Júlio Matos de Melo. – Nos últimos 20 anos, aproximadamente, foram construídas de novo, ou reconstruídas e ampliadas 70 traineiras da albacora, não falando das muitas outras feitas nesse período, como a ampliação do iate Espírito Santo, da lancha Espalamaca, etc.” – “E isto bastará para se julgar do volume deste arsenal, o maior dos Açores, e do valor de que são credores estes briosos construtores...” (6)
E pergunta-se: Porque não se aproveitam os estaleiros de S. Amaro? Retirar daquela freguesia uma actividade, que era a única, para a arrastar para onde nunca houve tradição da construção naval ? ! Pois se até as lanchas do Canal eram construídas ou beneficiadas naqueles estaleiros...
E deste jeito vão ficando as terras despovoadas e, consequentemente, mais empobrecidas, sem ninguém que lhes acuda.
Mas havia mais que se dissesse.

 

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